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Saudades de minhas
putas alegres
Saudades de minhas
putas alegres
Moro sozinho há alguns meses e, graças a isso, tenho cultivado prazerosos hábitos solitários, mas não são aqueles condenados pela Santa Igreja. São outros que só se percebe o quanto nos faz bem quando estamos sozinhos, como o hábito de ler, de escrever, de ouvir música ou mesmo cozinhar. Este último há muito não praticava e já nem sabia mais como fritar “um ovos”.
Outros se mostram mais e mais prazerosos a cada vez que se praticam. A leitura é um deles. Li García Marquez esses dias e suas “Memórias de Minhas Putas Tristes”, que retrata o vigor de um amor adolescente aos 90 anos. Fantástico e emocionante como só ele o é, me fez ansiar amar daquele jeito, mesmo que aos sessenta ou setenta, embora deseje muito me tornar um nonagenário tão apaixonante quanto seu personagem ou um centenário tão jovial quanto a recém-falecida Dercy Gonçalves.
Gosto dos escritores latinos, como Vargas Llosa e o próprio García Marquez, pois expurgam dos seus textos a hipocrisia literária e não se furtam em grafar um “puta” sem tornar seus escritos chulos ou apelativos.
O que me inspirou a escrever esse texto não foi a história de amor do velho jornalista pela adolescente Delgadina, mas o próprio título do livro: “Memórias de Minhas Putas Tristes”. Ao terminar a leitura fiquei imaginando as minhas putas, as tantas “mulheres de vida fácil” que passaram pela minha vida. Da reflexão veio a constatação: as minhas putas eram alegres, muito alegres, e o pior - ou o melhor: sinto saudade de minhas alegres putas.
Não nego a ninguém que tive uma juventude em que visitava com relativa freqüência ambientes nada politicamente corretos. Deixando a hipocrisia de lado, andei muito nos puteiros da cidade.
Meus amigos se divertem quando conto como perdi minha virgindade aos quatorze anos em um puteiro. Acho que vale a pena retratar aqui para mostrar o quão alegre eram minhas putas.
Aos pudicos de plantão, peço que abandonem aqui a leitura. Não porque vá retratar pormenores de alcova de submundo, mas porque verão confissões de um homem de meia idade, pai de três filhos que não se furta em confessar que conheceu com relativa intimidade o lado negro da sociedade que a cidade rejeita.
O nome dela era Fátima. Não tinha mais do que dezessete anos, e eu, com falei acima, apenas catorze, quinze talvez, não lembro bem. Fui levado ao afamado Papoco pelos amigos de trabalho. Comecei minha vida profissional muito cedo, mas não no oficio atual. Trabalha em uma loja de eletrodomésticos e os amigos insistiram que eu deveria me “tornar homem” de qualquer jeito. Me levaram ao “baixo meretrício” e falaram da minha condição de virgem ao dono de uns dos donos de botequins do lugar. Aos berros ele a chamou: Fátima! Ei, Fátima, vem cá! Prontamente chegou aquela menina serelepe, saltitando como e estivesse pulando a macaca com as amiguinhas da rua. Bom, o que veio a seguir, prefiro deixar para contar em outra oportunidade.
Fátima era alegre e jovial como todas as meninas aos dezessete. Não sei se era feliz ou se sua alegria permaneceu durante a vida que escolheu, mas o que ela irradiava me fazia feliz, pelo menos naquelas visitas que lhe fazia. Me tornei freqüentador assíduo do puteiro e de tantos outros da cidade.
As putas que conheci no Papoco, no Tabira, nos bordéis do bairro 15, no Espanta Cão ou em outros que me fogem à memória agora eram mulheres diferentes das prostitutas ou das modernas garotas de programa. Eram putas mesmo, por opção, paixão ou situação. Não se envergonhavam disso e lhes faltava alegria no rosto sofrido, mesmo que a tristeza da vida longe dos puteiros vez por outra lhes apertasse o peito. Gargalhavam sem se envergonhar de mostrar os dentes, ou a ausência deles. O riso era autêntico e funcionava como um incentivo ao cliente a pagar mais uma rodada de cerveja ou de aguardente.
Aliás, é bom que se diga que foi nos puteiros que descobri os prazeres de dois hábitos que há algum tempo abandonei - o de fumar e o de apreciar uma boa cachaça. O fumo não era um hábito que gostava de cultivar, mas a cachaça, essa sim, abandonei a contragosto, pois me tornei hipertenso e, nesse caso, optei por continuar por aqui.
Voltando às putas, não posso deixar de citar o quanto o ambiente freqüentado por elas era animado. Música alta, boleros na maioria dos casos, penumbra e o peculiar desapego ao dinheiro que surge nos homens quando estão diante do sexo oposto e buscando o sexo que o oposto lhe pode dar.
A verdade que é que na minha juventude puta era puta e puta que se prezava era alegre. O voluptuoso hábito de conviver com putas já não tenho há muito tempo. Sobraram as boas lembranças do tempo em que putas, alegres ou tristes, só se encontravam no puteiro. Tempos bons, ah, isso era.
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5 comentários:
Olá!
nossa quantas novidades..morando sozinho?? como não sabe mais cozinhar?? vc era excelente pilotando um fogão...e que história interessante..te conheço há tanto tempo e não sabia das suas aventuras adolescentes nos puteiros da vida..bjos
Oh tempo boommmm..
rsrsrs
NOSSA!!!!!!! PUTEIROS!!!!!!! RSRSRS...Apesar de ser mulher e nunca ter entrado em um...acho que deveriam mesmo ser um lugar muito espirutuoso!!!!
Alias, acho que toda puta que se prese deveria ir para o céu sem ter que prestar contas. Pois é incontável o serviço que prestão a nossa sociedade.
Como ficariam as boas moças de famílias de não fossem elas!!!????
Amei o texto....alias, também amo os autores latinos, Neruda é um deles maravilhoso!!!!
Beijos amigo.
Tião, deixa de putaria...
Poxa que vida a sua hemmm!!!
Não sabeia que vc tinha sofrido tanto!!!!!
Tudo da vida passa,até a vida de PUTA
Parabens pela sua vitoria!!!!!!
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