sexta-feira, 7 de março de 2008

Doutor com “D” maiúsculo

Minha profissão é uma das mais estressantes do mundo. Também é uma das que mais mata, principalmente por infarto. Isso porque o editor lida com todo tipo de situação, com muita pressão, corre sempre contra o tempo e não pode errar nunca, embora os erros sejam freqüentes. E quase inevitáveis.

Lidar com as palavras é algo complicado e requer o domínio pleno da língua. Apesar da exigência profissional, não tenho o domínio completo do vernáculo, mas me esforço bastante.

Algumas particularidades, porém, não consigo admitir. Uma delas é arrogância de quem escreve a profissão que exerce com a primeira letra em caixa-alta. O caso é que um juiz não pode ser apenas juiz, tem que ser Juiz, assim mesmo, com inicial capitular; promotor, idem, tem que ser Promotor, e assim vai com Prefeito, Advogado, Engenheiro e Empresário, que acreditam que seu status social aumenta se a profissão for grafada dessa forma. O mesmo acontece quando se referem a outros, mas só se for em caso de profissões mais nobres. Se o sujeito for um carpinteiro, vai ficar tudo minúsculo mesmo. E bem minúsculo.

Recebo textos assim todos os dias. A maioria vem de assessorias de comunicação. Esses profissionais fazem questão de homenagear os chefes com e colocam lá: “O Deputado Tal fez bonito na solenidade”, ou então “O Engenheiro Fulano condenou tal obra”, e assim por diante. Outro dia me deparei com um texto em que estava lá escrita a profissão de diversas autoridades em maiúsculo, mas quando se referia a uma funcionária do órgão estava escrito: “... a servidora Sicrana representou os funcionários”. Viram a diferença? quando se trata da autoridade é doutor com “D” grande, mas se for servidor, funcionário, barnabé, é com a primeira letra em caixa-baixa.

Quando é o próprio “doutor” que escreve assim, demonstra arrogância e prepotência. Quando se trata do assessor referindo-se ao manda-chuva ou demais autoridades, demonstra subserviência e desconhecimento de regras básicas do jornalismo.

Igualmente reprovável é mesmo o “doutor”. Todo mundo acha que deve ser tratado com tal título esquecendo que ele deve ser dado apenas àquele que se pós-graduou no âmbito do doutorado em alguma área do conhecimento. Ser juiz, promotor, desembargador ou mesmo médico não quer dizer que é doutor, muito menos doutor com “D” maiúsculo.


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