quarta-feira, 3 de junho de 2009

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A Copa e o petróleo


Vivo política há muito tempo, desde a militância juvenil à minha atuação profissional como jornalista formador de opinião. Mas ao longo desse tempo todo nunca fui partidário da tática do “quanto pior melhor” nem mesmo acreditei que a derrota dos adversários em causa justa fortaleceria minha causa. Aprendi há muito tempo que o bom político tem que ser coerente, consequente e ético.

O que vi ontem nos debates da Assembleia Legislativa me entristeceu. Vi os deputados de oposição entusiasmados com a não-escolha do Acre como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e com a nota da Petrobrás que diz que “não procede a informação veiculada hoje [01/06] na Folha de S. Paulo sobre o anúncio de duas grandes reservas de petróleo e gás natural no Acre e no noroeste de Minas Gerais”.

Sobre o primeiro fato, não entendo o porquê das críticas ao governo e à comissão que pleiteou o Acre com participação efetiva na competição mais importante do esporte mundial. A proposta do Estado era coerente e significava a oportunidade de o mundo conhecer uma região onde seu povo convive muito bem com a natureza e vem se dedicando à defesa do ambiente e à valorização da cultura da floresta como uma das mais belas e ricas do Brasil.
Os investimentos do governo não se tornaram prejuízo com a “derrota”. O que foi gasto está sendo recuperado com a divulgação que o Estado teve na mídia mundial, bem como com os benefícios que virão quando os jogos se realizarem aqui perto, na cidade de Manaus (AM) ou em Cuiabá (MT). O Acre deverá lucrar com o turismo, mesmo de forma indireta, não duvidem disso.

Talvez o Acre tenha realmente perdido muito dinheiro, mas não estou falando do que foi usado pelo governo para elaborar o projeto acreano ou divulgá-lo durante o processo de escolha das cidades. O dinheiro que estou falando é o que deixará de chegar ao Acre com os investimentos da iniciativa privada ou mesmo do governo federal. Estou falando também dos milhões que os turistas deixariam aqui durante os jogos e por muito tempo ainda depois do fim da copa. Sinceramente, não sei por que alguém ficaria feliz com isso, sendo ou não oposição.

Já com o segundo fato, a “nota da Petrobrás”, creio haver igual inversão de valores. Imaginem os senhores leitores os benefícios de se encontrar óleo e gás no Acre. Imaginem uma exploração responsável e criteriosa que conviva perfeitamente com o ambiente e que contribua para a melhoria da qualidade de vida da população. Imaginem tudo isso e imaginem alguém contente porque não será realizado. É difícil entender, não é?

O que os oposicionista não percebem é que a nota da Petrobrás não descarta a existência de petróleo no Acre. A empresa negou que existam duas novas reservas a serem anunciadas, não que elas não existam.

A questão da existência ou não de petróleo no Estado é antiga. Há quem diga que se sabe de grandes reservas na região desde a década de 1970 e que os governos do Regime Militar fizeram questão de esconder isso por algum motivo que não faz o menor sentido agora. Se for verdade ou não, não sei.
A verdade é que ao redor do Estado há grandes reservas de óleo e gás. A maior parte delas está na Bolívia, aqui, na nossa biqueira. Há muito também no Amazonas, na região de Urucum. Lá a exploração está a todo vapor e, da forma que vem sendo feita, o meio ambiente está plenamente contemplado e preservado.

Também não sou defensor do petróleo, mas não faria festa para comemorar a confirmação da não existência no Acre.
Sinceramente, creio que muita gente soltou rojões e fez festa para celebrar a escolha de Manaus como a sede do Norte para a Copa do Mundo. Mal sarada a ressaca dos festejos, deve ter reiniciado ontem as comemorações após a divulgação da nota da Petrobras. Pergunto então: quem realmente ganha ou perde com isso? Seria o Binho? Seria o Jorge Viana? Seria o seu irmão Tião? Ou seria o PT? Não, nenhum desses perde tanto quanto nós, acreanos, e sorrir disso é um completo desrespeito.

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