sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Pela saída do Henrique Afonso

Não sou petista, mas comungo com as idéias do partido e milito na esquerda há muito tempo. Admiro PT e suas bandeiras e a veemência de suas lideranças na defesa das causas populares e das minorias. Talvez essas características tenham sido as que fizeram ele um dos maiores partidos do país. Por tudo isso, creio que o PT é um partido onde não cabe reacionários, homens ou mulheres que prezam pelo conservadorismo ou que defendem questões que ofendem os direitos das minorias.


Outros dia recebi um release da assessoria do deputado federal Henrique Afonso, onde era relatada a intenção de setores do PT, mais especificamente o movimento de mulheres, de expulsá-lo por suas posturas contrárias ao aborto. Li e digo, por estas e por outras, como a posição do deputado com relação aos homossexuais, ele já devia ter sido expulso há muito tempo.


Não sou a favor de se fazer aborto, mas sou contra aqueles que negam à mulher esse direito. Aliás, acho até que esse assunto nem diz respeito aos homens, deveriam ser as mulheres a decidirem se o aborto é ou não legalizado no país. Nós, homens, não gestamos, não sentimos as dores do parto e não parimos. Raramente criamos os filhos diretamente e muitos se quer assumem a responsabilidade paterna, então deveríamos ser excluídos sumariamente desse debate.


Henrique tem se mostrado um parlamentar defensor do atraso, é um conservador nato, apesar de ter raízes no movimento social e militância aguerrida em partido comunista. Mas hoje, ao assumir tendências religiosas extremas, se coloca ao lado daqueles que incitam o preconceito, como no caso da sua aversão ao homossexualismo.


Acho que o deputado tem o direito de ter suas opiniões, todos nós temos. Mas homens como ele são formadores de opinião e, como tal devem se assumir a postura política de acordo com as questões que defende. Portanto, o PT não é o lugar de defender o não ao aborto ou muito menos o preconceito aos gays. Há outros partidos tão estreitos quanto o Henrique e lá ele poderá muito bem dizer até que mulher que vota é crime ou dizer que quer mandar para a fogueira as mulheres que fazem cura com ervas, mas no PT não.


Como deputado, Henrique Afonso faria muito mais para por fim ao aborto ao sugerir leis que beneficiassem às mulheres, facilitando o acesso aos programas de planejamento familiar, propondo aulas de educação sexual nas escolas e garantindo uma saúde de qualidade para as mulheres de todo o país, seja nos grandes centros urbanos, seja no interior carente desse país.


Se as intenções de Henrique Afonso são tão cristãs assim e se ele realmente está tentando preservar a vida, talvez devesse defender o direito ao aborto, pois não sabe ele que o aborto clandestino é uma das maiores causas de morte materna. O caso é mais sério em Estados do Norte e Nordeste, onde as informações chegam às meninas com maior atraso e maior distorção, onde o acesso à saúde é mais limitado e onde o preconceito é maior. Deputado, haja a favor da mudança desse triste quadro, ajude a evitar a morte de tantas mulheres.


No ano passado, o Partido dos Trabalhadores, durante o seu 3º Congresso Nacional, firmou pé na defesa do direito ao aborto. Essa foi uma das deliberações do encontro. Foi uma posição ousada e avançada que coloca o PT na linha de frente da defesa dos direitos da mulher das causas das minorias. O PT também se coloca na defesa do direito da diversidade, em quanto que Henrique Afonso não nega abertamente sua aversão aos gays.


Por tudo isso, creio não ser o PT o lugar de Henrique Afonso. Talvez a decisão de sair devesse ser tomada por ele, pois está em um lugar indigesto para suas concepções políticas e religiosas.


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