Aquelas eram as pessoas a quem admirava e que sonhava um dia ser profissionais como elas.
Certa feita, estava desempregado e encontrei o Tião Maia, que na época trabalhava no O Rio Branco. O jornal tinha sua sede na Avenida Ceará, próximo do antigo Serda, como era conhecido o extinto Serviço de Divulgação do Estado do Acre. No local hoje funciona uma funerária. Eu queria ser jornalista e o Tião me sugeriu trabalhar com ele no jornal e pediu que eu falasse com o Elzo Rodrigues, então diretor do jornal. O Tião me disse: “Vai lá, é fácil, basta responder àquelas perguntinhas: Quem? O quê? Onde? Quando? Por quê? e Como?”. Cheguei até a encontrar o Elzo, mas na hora de fincar pé na profissão eu amarelei. Mas a vontade de ser jornalista continuou anos depois até uma outra oportunidade, que não deixei escapar.
Essa introdução serve para mostrar como era que se tornava jornalista no Acre da década de 1980. Não tinha universidade para isso, tampouco processo de seleção. Ia trabalhar nos jornais quem tinha vontade e aptidão. A faculdade era a rua e a graduação se dava quando um texto era a manchete principal do jornal.
Assim se formou muita gente boa. Bons profissionais que atuam até hoje e que deixaram suas marcas nos anais da imprensa acreana. É para eles que o Prêmio José Chalub Leite deste ano está sendo feito. São os pioneiros do jornalismo no Estado e são eles que devem ser homenageados em tão importante momento.
Hoje eu convivo com muita gente que admirei lá atrás e ainda admiro hoje. Sinto-me grato por finalmente ter me tornado um jornalista, embora não tenha cursado uma escola formal para isso. Minha escola foi justamente a convivência com essas pessoas.
A formação acadêmica tão esperada por aqueles pioneiros só veio mais de uma década depois, já com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais, fundado há 20 anos, no dia em que aquela foto foi tirada. Com as faculdades de jornalismo, todos os anos novos profissionais são formados e estão atuando em diversos veículos.
Uma coisa não mudou desde que aquela imagem foi grafada em 1988: para fazer jornalismo tem que ter muita vontade. A profissão é estressante e desgastante. Maltrata o corpo e a mente. Mas é uma paixão que não conseguimos largar. O bom jornalista não sobrevive longe da notícia e não pensa em outra coisa que não seja a manchete do dia seguinte.
Quando iniciei como repórter, descobri que não queria fazer outra coisa na vida e hoje sinto como se nunca antes tivesse feito nada diferente, embora tenha atuado em muitas outras profissões desde que iniciei minha vida profissional aos doze anos.
Estou na área há mais de 15 anos e, aqui e acolá, me encontro com pessoas que iniciaram no jornalismo nos “tempos bicudos” e com outros que estão entrando agora. Percebo algo comum a todos, que é o desejo de contribuir, por meiodo jornalismo, para um Acre melhor. Tenho certeza de que essa é uma característica que vem de lá, lá do desejo daqueles homens e mulheres que enfrentaram as adversidades para criar um sindicato que se tornou um dos mais representativos do país. São eles, aqueles da fotografia, a quem hoje rendo homenagens, pois foram os que me inspiraram na vida de profissional.
Espero que continuem inspirando tantos outros que, assim como eu, têm nas veias o sangue contaminado pela pauta e pelas manchetes.
Publicado originalmente no jornal
"Mapinguari", do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Acre (Sinjac)
"Mapinguari", do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Acre (Sinjac)
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